“Não para por aqui.” A fala de Dayane Freitas, de 24 anos, marca o fim de uma etapa e o início de outra. Ela está entre as duas primeiras mulheres a concluir a graduação em ciência de dados e Inteligência Artificial da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
A colação de grau aconteceu na primeira semana de julho. Desde a criação do curso, em 2020, nenhuma aluna havia chegado ao final da formação.
A graduação é oferecida pelo Centro de Informática e prepara profissionais para atuar com dados, algoritmos e inteligência artificial.
Dayane conta que sua jornada foi marcada por decisões e desejo de mudança. Para ela, a formatura não é ponto final, mas parte de um processo de crescimento contínuo.
É muito gratificante. Eu tô com a sensação de dever cumprido, mas não para aqui, obviamente. Acho que meu propósito de vida é incentivar também outras mulheres para esse mercado de trabalho
LEIA TAMBÉM:
E a nova cientista já planeja os próximos passos. “Daqui por diante vou me aprofundar mais em cursos referentes à área. Não para por aqui, porque a tecnologia tá sempre se movimentando”, declara Dayane.
Segundo ela, a motivação veio da percepção de como os dados estão presentes no cotidiano: “A motivação inicial foi perceber que vivemos em um mundo que gera uma quantidade absurda de informações, e eu queria ser a pessoa capaz de dar sentido a tudo isso”.
Transição de carreira e recomeço
A jornada de outra recém-formada, a Elaine Franco, de 33 anos, mostra os desafios enfrentados até a conquista do diploma. Antes de entrar na área de tecnologia, ela já havia se graduado duas vezes em enfermagem. Ainda assim, sentia que precisava buscar novos caminhos.
“Depois que me formei, senti que ainda faltava alguma coisa e não estava realizada. Eu vim da enfermagem, amo de paixão, mas foi muito desgastante físico e mentalmente quando me formei”, disse.
Ela começou cursando Engenharia da Computação na UFPB, mas decidiu migrar para ciência de dados assim que o novo curso foi implantado. A decisão veio com uma série de obstáculos: reprovou em quase todas as disciplinas no início, conciliou três empregos, enfrentou dificuldades financeiras, se mudou de cidade e, durante a pandemia, perdeu a mãe após anos de tratamento contra o câncer.
“Vi que se encaixava perfeitamente com o que eu queria para minha vida, então decidi fazer a reopção de curso. O curso me abriu muitas portas bem antes de me formar. Eu me vejo progredindo na área”, explicou.
Mesmo com os obstáculos, Elaine seguiu firme. Para ela, a falta de representatividade feminina no curso também se tornou um incentivo.
A gente passa o curso todo rodeada de homens e tem poucas referências femininas. Chegando aqui, a gente percebe que se torna também referência para aquelas que estão no início do curso ou aquelas que querem ingressar na área
Universidade busca ampliar presença feminina na tecnologia
A professora Yuska Aguiar, do Centro de Informática da UFPB, explica que há um movimento dentro da universidade para incentivar a entrada de mais mulheres nas áreas de tecnologia. Segundo ela, é preciso desconstruir a ideia de que esse tipo de formação é mais adequada para homens.
“A área de tecnologia às vezes é entendida como algo mais direcionado para homens, mas isso é algo a cair, porque realmente não tem essa predominância no sentido das habilidades necessárias para desenvolver a profissão. Todas as pessoas são capazes de se formar, desde que tenham dedicação”, afirmou.