Cláudio Souza
Secretaria de Apoio Social ao Cidadão
Colaboração do estagiário João Vítor Trindade
Sabores. Saberes. Memórias afetivas de receitas que evocam lembranças da convivência em família, da juventude, das amizades e das boas histórias do passado.
Os idosos acolhidos na ILPI (Instituição de Longa Permanência de Idosos) Nosso Lar, localizada na região central de São José dos Campos e mantida pela Prefeitura, por meio da Secretaria de Apoio Social ao Cidadão, são protagonistas do livro “Sabor de memórias: receitas que contam histórias”, lançado pelo Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) em abril último.
Durante o evento na unidade Senac no munícipio, os idosos fizeram uma exposição com as artes manuais que desenvolvem na ILPI, como pinturas em tela, desenhos, panos de prato e brinquedos construídos com materiais reciclados que demonstram talento e inspiração.
Como retribuição, participaram de um almoço preparado pelos alunos do curso técnico de Gastronomia do Senac. O prato servido foi lasanha à bolonhesa, uma das delícias do caderno de receitas e que foi acompanhada de um doce de abóbora, outra iguaria lembrada pelos moradores da instituição mantida pela Prefeitura.
O livro com delícias e memórias afetivas | Foto: Wesley Amaral/Senac São José dos Campos
Tesouros culinários
Nas 40 páginas do livro, constam tesouros de delícias permeadas por boas histórias. E tem opções para todos os gostos e apetites: arroz carreteiro, feijoada, macarronada, baião de dois, costela no bafo, arroz com angu, quirerinha de frango, lasanha a bolonhesa e torresmo.
Deu água na boca? Ainda tem os doces: bolo de chocolate, cocada, doce de abóbora, doce de mamão e doce de batata doce.
As receitas, os idosos e as histórias por trás de cada prato ou doce podem ser conferidas na versão digital do caderno de receitas. Saiba mais, prepare os pratos, faça os doces. E saboreie sem moderação.
A macarronada é um dos pratos prediletos na ILPI: os idosos rapam até a cuba | Foto: PMSJC
Encontros intergeracionais
O projeto do livro foi idealizado por 12 jovens aprendizes do Senac São José dos Campos após visitas à ILPI e muitas conversas. Já o projeto gráfico foi desenvolvido por Jeff Barbato, professor de design gráfico na unidade escolar.
Durante os encontros intergeracionais, os alunos do curso de Aprendizagem resgataram as receitas, as histórias e as memórias afetivas.
Encontros intergeracionais como estes são constantemente promovidos pela Prefeitura, principalmente nas atividades das Casas do Idoso.
Professora do Programa Aprendizagem do Senac e responsável pelo livro, Jaqueline Daniel explicou que o desenvolvimento de um projeto durante as aulas do Programa Senac de Aprendizagem faz parte do currículo do curso e é obrigatório para a formação dos estudantes.
Ela destacou a importância da interação com os idosos para formação dos estudantes.
“A interação entre gerações é rica tanto para os estudantes quanto para os idosos moradores da ILPI. Com esta atividade, os alunos vivenciaram as marcas formativas do Senac, desenvolvendo uma visão crítica, o domínio técnico-científico, a colaboração e a comunicação”, disse a professora.
“Eles perceberam e praticaram a diversidade e a inclusão tão necessárias para o relacionamento interpessoal e para a convivência no mercado de trabalho”, completou.
Idosos da ILPI e alunos do Senac: encontros intergeracionais | Foto: Wesley Amaral/Senac São José dos Campos
Memórias e emoções
Algumas receitas do livro, como a quirerinha de frango, a costela no bafo, a cocada e o doce de abóbora foram citadas por muitos idosos, evocando muitas histórias, lembranças, emoções e sorrisos.
Já a macarronada é o prato mais apreciado da ILPI.
“Eles adoram macarronada. Quando fazemos, eles rapam até a cuba”, afirmou a cozinheira Zenicleide Albuquerque da Costa, que tem 50 anos e trabalha na ILPI há 5 anos, desde sua inauguração.
Conheça alguns idosos, suas receitas e suas histórias.
Ao sentir o cheiro e comer arroz carreteiro, seu Onésimo se lembra dos pais | Foto: PMSJC
Seu Onésimo e o arroz carreteiro
Onésimo Cosme Leandro tem 68 anos e está na ILPI desde 2020, quando foi instituída pela Prefeitura. Ele participou do livro com receita de arroz carreteiro, que é sua especialidade e o prato que mais gosta de comer, junto com feijão tropeiro.
Seu Onésimo contou que o arroz carreteiro traz muitas lembranças de seus tempos como motorista de carreta pelas estradas brasileiras. Ele aprendeu a receita com o pai, que também era carreteiro. “Sempre que faço ou como arroz carreteiro, lembro do meu pai. Ele me ensinou. Mas minha mãe também sabia fazer”, disse seu Onésimo, que é capixaba.
As lembranças continuam vívidas em sua mente e no seu coração.
“Quando sinto o cheiro do arroz carreteiro e vejo na mesa, lembro na hora do meu pai, da minha mãe, da máquina em que trabalhava como operador e dos tempos dirigindo carretas nas estradas”, afirmou seu Onésimo.
“Traz muitas lembranças boas. Eu durmo de noite pensando nisto e lembrando. Só memória boa”, completou.
Seu segredo? “A minha receita é normal: carne seca prontinha, bem cortadinha. Torra o arroz. Aí, quando for colocar a água, coloca a carne no arroz. É isto”.
Simplicidade de quem sabe reconhecer as coisas boas da vida. Mais do que um prato, memórias, sentimentos e lições de humildade.
Seu Pedro vendo as fotos de feijoada no livro: família reunida em volta da mesa | Foto: PMSJC
Seu Pedro e a feijoada
A exemplo de seu Onésimo, Pedro Moreira Bispo tem 68 anos e mora na ILPI desde sua inauguração há cinco anos, no início da pandemia da covid-19. Ele participou do livro com receita de feijoada, seu prato predileto.
Mais do que fazer, gosta de comer. E não só às quartas-feiras e sábados, dias tradicionais da guloseima em todo o país. Na ILPI, quando tem feijoada, ele é um dos mais animados.
O que a feijoada traz de memória afetiva? A família. A esposa, que era professora, fazia. E era a hora de reunir todos ao redor da mesa: o casal e os quatro filhos, dois homens e duas mulheres.
“Quando penso ou como feijoada, vem na hora lembranças boas. Eram momentos de muita alegria. Todo mundo unido se alimentando. Algo legal e muito bom. Hoje, em muitas famílias cada um come em um horário”.
Os quatro filhos visitam constantemente seu Pedro na ILPI. Nestas ocasiões, podem até não comer feijoada, mas retomam a união familiar do passado. Algo que não sai da mente nem do coração. E que não tem preço.
Dona Maria e seu sorriso cativante: gosto culinário eclético | Foto: PMSJC
Dona Maria e a macarronada
Natural de São Sebastião, dona Maria Aparecida Moraes tem 88 anos e cativa os amigos da ILPI e todos que visitam o local. Ela fala pouco, mas seu olhar transmite amor. E seu abraço? Não dá vontade de largar.
No livro, ela se sentiu representada pela macarronada, prato que é o campeão na preferência dos idosos acolhidos na instituição mantida pela Prefeitura.
“Quando tem macarronada, gosto muito. Mas, como boa caiçara, também gosto muito de peixe. Vi as receitas dos meus amigos no livro. Tem muita coisa boa”, disse dona Maria.
Com gosto culinário eclético, ela enumera o que mais agrada seu paladar: macarronada, peixe, massas. Todos os pratos que citou lembram os pais, os três filhos, a família, a juventude.
“O peixe que mais gosto é o azul marinho. Vocês já ouviram falar? É que nem moqueca”, disse dona Maria.
“Também gosto muito de lasanha, de nhoque, de massa. E sou magrela. Mas a minha família toda é assim. Todos magrinhos”.
Ela contou que tem um filho que cozinha muito bem. Sábado é o dia de ir para as casas dos três filhos. E aos domingos, eles vão até a ILPI.
Mas agora são os filhos que cozinham. Dona Maria só come. E continua amando, abraçando, unindo e cativando.
A cozinheira Zenicleide encontrou novo propósito de vida | Foto: PMSJC
Amor e carinho
Não é só dona Maria, seu Onésimo e seu Pedro que encantam quem os conhece.
Ao conversar com os funcionários da ILPI, é fácil perceber como a convivência com os idosos acolhidos na instituição mudou suas vidas, assim como impactou os jovens alunos do Senac.
A cozinheira Zenicleide Albuquerque da Costa, que tem 50 anos e trabalha no local desde sua inauguração em 2020, garantiu que não troca este emprego por nenhum outro.
“No início da pandemia da covid, em 2020, pedi a Deus que me colocasse em um local em que pudesse ajudar as pessoas. Deus realizou meu sonho. Estes idosos são a minha família e aprendo muito com eles. Daqui não saio. Só para me aposentar e voltar para Caruaru [sua cidade natal, em Pernambuco]”, afirmou Zenicleide.
“Nestes cinco anos, recebi propostas de restaurantes e chefs de São José para ganhar bem mais. Mas o que tenho aqui não tem preço: amor, carinho e outro olhar sobre o ser humano”, completou.
A nutricionista Ludmila Gama, de 36 anos, também se apaixonou à primeira vista.
“Estou trabalhando na ILPI há dois meses. Na entrevista para este emprego, já senti que minha vida ira mudar. Cuidar da alimentação deles, garantindo que comam o que gostam mas sem descuidar da saúde, transformou-se em meu propósito de vida”.
Sabores de memórias, saberes e histórias que transformam vidas e demonstram a importância da família. Leia o livro, saboreie as receitas e estreite os laços com quem você ama.
Seu Onésimo, seu Pedro e dona Maria: sabedoria, humildade e carisma | Foto: PMSJC
Serviço
As ILPIs
O que são: Nas ações de cuidados constantes com os idosos, a Prefeitura mantém quatro ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos) por meio de parcerias com OSCs (Organizações da Sociedade Civil).
Localização: Nas regiões central, norte e leste
Total de acolhidos: 160
O que oferecem: Acolhimento humanizado e cuidados constantes realizados por equipes multidisciplinares em locais com infraestrutura completa
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