Há exceções, mas uma significativa parte da classe política da Paraíba, inclusive os que têm cargos elevados, só fala em 2026, faz conjectura publica ou sigilosamente sobre a próxima eleição e todo o debate da política morre em composição de chapa.
Mas, e os problemas reais do estado? Qual o espaço que eles têm no pensamento, nas ações e na agenda pública? Fica em segundo, terceiro ou nenhum plano. Um exemplo dessa omissão está no comportamento dos legisladores paraibanos. A (não) atuação nos “plenários” é emblemática.
Não vemos um debate forte e de cobrança para diminuirmos com mais rapidez o analfabetismo do estado. Avaçamos um pouco mas temos a 3º pior taxa do país. São mais de 417 mil analfabetos.
O governo do estado, há pelo menos quatro anos, fez parcerias com mais de 200 municípios para construção de creches. Uma ou outra é inaugurada de quando em vez. Não há “sangue nas veias” dos políticos para que crianças da primeira infância, de fato, estajam “protegidos” pela sistema educacional. A exceção, recente, foi uma ação do TCE, com a assinatura de um pacto.
Obras param, recomeçam, param e ninguém cobra solução. Crianças crescem e a vida adulta é comprometida.
Na Paraíba, quatro pessoas são estupradas por dia. E os agentes políticos não gritam. Figem que não tem nada a ver com eles. De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, foram 467 vítimas de estupro na Paraíba nos primeiros quatro meses do ano. E esse é só um dado da violência.
Outro indicador que fica na fim da fila de prioridades para debate: quase metade da população do estado, 47,4%, vive abaixo da linha da pobreza adotada pelo Banco Mundial (US$ 6,85 PPC por dia ou R$ 665 por mês), ficando acima dos indicadores observados para o Brasil (27,4%) e o Nordeste (47,2%).
A tão esperada transposição do São Francisco chegou, mas as discussões sobre a redenção que as águas poderiam trazer em algums localidades não têm força. Onde está a transformação esperada na vida dos ribeirinhos? Oito anos após a primeira gota entrar em solo paraibano, as obras complementares não foram concluídas.
Outro debate importante engolido pelo mimimi da formação de chapas: é do saneamento básico, especificamente o esgotamento sanitário. Quase metade da população da Paraíba não tem o serviço e a sujeira escorre na porta de casa. Três cidades são emblemáticas: Santa Rita, não chega a 10%; Bayeux, não passa de 15%; e a turística Conde, Litoral Sul, não passa de 5%.
Relatórios do TCE mostram uma “fragilidade da gestão ambiental” nos municípios do semiárido paraibano em relação à desertificação e mitigação dos efeitos da seca. De acordo com o Tribunal, mais de 40% dos municípios respondentes afirmaram que não possuem secretaria ou órgão de meio ambiente que possa tratar do tema. Os dados são de 2023. Mas, com o silêncio sepulcral sobre tema, quem acredita em alguma mudança?
Ou seja, temas importantes não faltam. Poderíamos ampliar ainda mais essa lista – falando de desigualdade, da produção industrial, da renda per capita, da invasão das facções criminosas – mas ela é ilustrativa.
Vale lembrar que um outro debate sobre eles aparecem, mas não com força.
Não há profundidade, cobrança de prazos, metas a serem atingidas, cumprimento de normas, empenho para mudar, agendamento público, questionamentos, ações de fiscalização e acompanhamento, no discurso dos deputados federais e estaduais, por exemplo.
Alguém pode dizer: é a “imprensa que estimula o debate eleitoral interminável”. De fato, alimenta muito. Mas quem comanda esse “baile” é a política e ela aqui na Paraíba parece se resumir a busca por um lugar na chapa de 2026 e um lugarzinho na máquina pública.