“Très bien, monsieur Duarte, très bien!”. Foi assim que François Truffaut gritou para Anselmo Duarte no Festival de Cannes, em maio de 1962. Lá se vão 63 anos.
Ex-crítico e um dos fundadores da Nouvelle Vague, François Truffaut tinha 30 anos e acabara de lançar Jules e Jim, que se tornaria um clássico do cinema mundial.
Em 1962, Truffaut era um dos jurados do Festival de Cannes, e Anselmo Duarte saiu com o prêmio máximo do evento, a Palma de Ouro, por O Pagador de Promessas.
O Pagador de Promessas levava para o cinema o texto teatral de Dias Gomes e foi o único filme brasileiro a conquistar o prêmio mais importante do Festival de Cannes.
Lembro aqui de O Pagador de Promessas porque estamos mais uma vez com um filme brasileiro concorrendo em Cannes, e sempre há o sonho da Palma de Ouro.
Nesta segunda-feira (19), foram muitas as opiniões que li e ouvi sobre o novo filme de Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto, lançado no domingo (18) em Cannes.
Um thriller, O Agente Secreto se passa no Recife, em 1977, e tem Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido e Gabriel Leone à frente do elenco.
O Agente Secreto foi ovacionado pela plateia presente à primeira exibição e recebeu avaliações extremamente positivas de críticos brasileiros e estrangeiros.
Havia a expectativa de que fosse um filme sobre a ditadura militar pelo ano no qual a narrativa está situada e, de certo modo, pelo êxito recente de Ainda Estou Aqui.
Nesse sentido, chamou minha atenção uma entrevista de Kleber Mendonça Filho. Ele disse que não se trata de um filme que possa ser enquadrado no subgênero – sem tom pejorativo – dos filmes que se debruçam especificamente sobre a ditadura militar.
O Agente Secreto fala da ditadura sem ser um filme sobre a ditadura e, indo mais longe, é um filme sobre o Brasil não só de ontem, mas também de hoje.
O Agente Secreto é o quarto longa de ficção de Kleber Mendonça Fillho – O Som ao Redor, Aquarius, Bacurau – e, entre eles, há o documentário Retratos Fantasmas.
Kleber Mendonça Filho, recifense, 56 anos, migrou com êxito absoluto da crítica de cinema no Jornal do Commercio para a realização de filmes e, até aqui, só tem acertado.
Kleber Mendonça Filho é um dos grandes cineastas da atualidade, realizando filmes que estão em pé de igualdade com os melhores filmes do mundo.
Se 2024 foi o ano de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional, desejamos que 2025 seja o ano de O Agente Secreto.
E que Kleber Mendonça Filho ouça um grito semelhante ao que Anselmo Duarte ouviu de François Truffaut em 1962: “Très bien, monsieur Mendonça, très bien!”.